segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

UMA IDENTIDADE PJ

Não. Não dá mais para pensar que a PJ tem todas as respostas para todas as juventudes. E nem que seus questionamentos servem para todos os jovens. Confesso que eu tive esta ilusão quando estava em meus primeiros anos na pastoral. Mas este é um fato que hoje eu compreendo melhor. Agradeço, pois, ao tempo e às muitas divergências com quem pensava diferente de mim em tantos e tantos aspectos.

Deixei de lado também a versão maniqueísta de que a PJ é o bem e quem não caminha ao nosso lado é o mal. Como se perdem oportunidades e contatos maravilhosos com tantas e tão boas lideranças por causa desta visão estreita!

Quantas vezes o meu preconceito fez com que eu me afastasse de alguns jovens só porque eles eram ativos em determinados movimentos de ordem mais espiritualista. Não compreendia que este meu afastamento deles gerava também a impossibilidade deles conhecerem um pouco mais das belezas da PJ.

Aprendi com duas amigas da diocese de Santo Amaro que há muito da alma pejoteira em jovens que estão nos movimentos. Suspeito até que elas são mais pejoteiras que muito pejoteiro que tem por aí. Um colega que lê este texto agora pode se perguntar: “se elas são tão boas assim por que não estão na PJ?” A resposta é simples. Porque elas têm uma ligação afetiva com o movimento de origem. Porque elas se identificam muito com a proposta do movimento. E porque elas querem continuar atuando por lá.

Sinto em algumas lideranças pejoteiras este mesmo olhar de desconfiança com quem não carrega a cruz da PJ na camiseta, o anel de tucum no dedo ou tem o mesmo discurso que a gente. Gente, o que é isso? O Reino de Deus é muito maior do que a PJ. Infinitamente maior. Há duas posturas, portanto, que eu acredito que devamos ter e manter:

Não atingimos todas as juventudes. E, como disse no início, nem é nossa pretensão atingi-las. Há muitos grupos na Igreja e fora dela que atingem parcelas que nós não temos contato. E há vários destes grupos dispostos ao diálogo e à troca de experiências. Por que não interagir com eles?

A segunda postura diz respeito justamente à interação. Interagir não significa deixar de ser o que se é para ser aquilo que o outro é. Há grupos que pensam e agem assim: “Eu só dialogo com vocês, se for nos nossos termos. Se não for, tchau e bênção”. Muitos grupos de PJ sofrem com isso, pois são vítimas deste tipo de intolerância. Mas, infelizmente, já vi grupos e lideranças pejoteiras agindo da mesma forma quando estão por cima da carne seca.

O medo do diferente é uma atitude comum no mundo adulto, do mundo das coisas estabelecidas. Eu aprendi com a Pastoral da Juventude que é justamente por isso que o jovem é sempre o portador das novidades, das diferenças. Quando acontece do jovem barrar o diferente, ou é porque a coisa é ruim (ou aparenta ser ruim) demais ou o jovem envelheceu. E quando o jovem envelhece, há menos disposição na luta pelo Reino de Deus.

Esta conversa, inevitavelmente, nos leva ao tão falado Setor Juventude. Se a gente olhar o que está escrito no documento 85 da CNBB que trata da evangelização da juventude e que foi o texto oficial que lançou no Brasil o tal setor, veremos que ele não é uma iniciativa ruim.

Quando o documento fala em estruturas de acompanhamento, diz “186. Organizar uma articulação mais ampla — Setor Juventude — que envolva todas as forças que trabalham com jovens”. Ou ainda, mais adiante no texto diz no item 193 que cada organização que trabalhe com jovens tem sua organização e espaços de atuação e formação e que o Setor Juventude seria um espaço para unir e articular forças, o que não significa colocar tudo num mesmo saco, pois todos estes organismos que compõe o Setor Juventude têm sua própria mística, metodologia, identidade e organização. E isso deve ser respeitado. Em algumas dioceses, porém, o Setor Juventude vem sendo implantado a custa da extinção da PJ. É um erro de interpretação do documento. O setor veio para somar, não para extinguir.

Se conseguirmos caminhar juntos, ótimo. A PJ não é o Setor Juventude e não cabe a ela mudar sua identidade para este fim. E um setor juventude sem a PJ se torna capenga de uma experiência rica e de uma metodologia que dá certo a quase quarenta anos.

Não nos esqueçamos, portanto: o Reino de Deus é muito maior do que a PJ. Fazemos parcerias ou somos autossuficientes? Se trabalhamos juntos, como é este trabalho? Deixamos de ter nossa identidade? Deixamos que o outro também a tenha? O que a PJ coloca na mesa para este trabalho comum? Podemos não estar no mesmo grupo e andar do mesmo jeito, mas se caminhamos para o mesmo lado e com o mesmo objetivo, uma hora ou outra nos encontraremos. E será sempre na luta pela e com a juventude. Sempre pela vida.

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SETE PECADOS DA ASSESSORIA


O assunto de hoje é ligado aos pecados da assessoria. Para tratarmos disto, vamos pensar um pouco nas palavras. Entender a origem delas ajuda inclusive a melhorar a percepção que temos do seu uso no cotidiano. Pela nossa formação cristã, entendemos pecado como tudo aquilo que nos afasta de Deus. Mas na origem da palavra “pecar” encontramos tropeçar, mancar. Então pecado é o tropeço, as mancadas que damos no caminho para o advento do Reino de Deus.

A tradição cristã aponta sete pecados capitais, ou principais, que materializam as formas de tropeço que podemos encontrar nesta caminhada. A idéia de hoje é apresentar como a ira, a inveja, a luxúria, a avareza, a gula, a preguiça e o orgulho aparecem dentro do ministério da assessoria, não no sentido de ficarmos apontando as mancadas desta ou daquela pessoa, mas para tentarmos crescer, aprendendo como os erros.

A IRA: Já conheci assessor irado, com uma agressividade exagerada. Normalmente eram pessoas bem detalhistas, que gostavam das coisas com perfeição e para quem as coordenações não acompanhavam os passos orientados com exatidão ou não tinham a capacidade de resolver de uma maneira "correta" os problemas. Não falo de uma natureza raivosa, mas de momentos em que isto acontece. Um assessor naturalmente irado não dura neste ministério.

É preciso que os assessores se policiem bastante, principalmente quando as coisas não estão caminhando como ele acredita que seja o melhor. Quando chega a sensação do “Eu quero assim e vocês precisam fazer assado” é um sinal de alerta. Sinal, inclusive de um ranço autoritário ou de pouca confiança no grupo que assessora.

Um assessor com manifestações de ira intimida o grupo e não se dá a expor e compor com eles. Por vezes, suas manifestações são agressivas e chegam a ofender. E talvez esta seja sua intenção, pois o assessor irado acredita que não há outra maneira de fazer com que o grupo veja que está errando e volte a acertar. Há quem diga que por baixo de toda ira quase sempre detectamos medo: de errar, de expressar-se de outra maneira ou de perder espaço.

A INVEJA: O invejoso sente um desgosto ou tristeza pelo sucesso do outro. Sente-se injustiçado: “por que ele tem e eu não tenho?”. O assessor invejoso sente um pesar quando vê que outros grupos reúnem muitos mais jovens que o seu grupo, ou que eles tem tais e tais apoios e ele não vê o mesmo na própria realidade, ou quando conhece um assessor que fala empolgadamente ou escreve melhor ou cativa mais as pessoas, por exemplo.

Onde há a “mancada” e onde existe a possibilidade de salto qualitativo? Temos a figura do pecado quando o assessor acaba deixando de lado as virtudes do próprio grupo e fica só mirando e se lamentando porque o outro grupo é melhor, maior ou mais bonito. É uma possibilidade de salto qualitativo quando, ao olhar para o outro grupo que está numa condição melhor, ele consegue enxergar onde pode melhorar o próprio grupo, dentro de suas próprias características.

O assessor invejoso pode cair no erro de tentar ser como o objeto de seu afeto; ele tenta imitar a criatividade e o talento de outro, mas quase sempre é incapaz de atingir este objetivo. A imitação não leva em conta o dom natural. Querer ser o outro ou fazer o que o outro faz acaba por torna-lo uma cópia mal feita e que não tem originalidade. É uma ilusão.
A LUXÚRIA: A palavra tem a mesma origem de “luxo”, que significa excesso, superabundância. Acabou tendo seu significado ligado a uma impulsividade desenfreada, um prazer pelo excesso, tendo também conotações sexuais. Na assessoria, podemos entender a luxúria naquilo que é o “poder de dominar”. O assessor domina a coordenação, tem prazer em saber que “manda”. Não é um João Batista que dizia a respeito do Messias: “É necessário que ele cresça e eu diminua”.

Henry Kissinger disse uma vez que não há nada mais afrodisíaco que o poder. Jesus nos ensina que o poder é serviço. O assessor luxurioso transforma o seu serviço em estratégia de prazer e o jovem, bem como o grupo num objeto para este fim.

O assessor luxurioso gosta de estar entre jovens, não pelos valores deles, mas pela quantidade. Ele quer muitos seguidores, mas não se importa com a qualidade dos mesmos. Ele gosta mesmo é de se auto promover. Mal sabe ele que os jovens desprezam a imposição e ele vai terminar sozinho.

A AVAREZA: A origem da palavra aponta para “desejar ardentemente”. É estar apegado a uma determinada coisa, com medo que ela acabe. Está muito associada a questão financeira. Para o avarento, o dinheiro deixa de ser um meio para conseguir outras coisas e se torna um fim em si mesmo. É necessário para ele acumular e não dividir. Se dividir, pode acabar.

O assessor avarento não é aquele que não paga a passagem de ônibus da coordenação ou não leva o lanche numa confraternização. Ele é a pessoa que quer acumular o conhecimento e a informação só para si. Não confia no grupo ou na coordenação. Não expressa os próprios sentimentos e poucas vezes emite alguma opinião sobre os projetos em que acaba envolvido.

É muito econômico em pensamentos, sentimentos ou ações. Tem dificuldade em lidar com a diversidade, com a transparência. Normalmente chega nas reuniões já num clima defensivo. Não sabe dar dicas. Não divulga conhecimento, porque só tem dados acumulados. O assessor avarento é um tolo. Retem demais as coisas, mas não sabe o que fazer depois com elas.

A GULA: Gula vem de “garganta”, “goela”, acabou derivando para “boca” e chegou a nós como os excessos no comer e no beber. O guloso não experimenta, saboreia as comidas, simplesmente as engole, com voracidade. E quanto mais ele come, mais ele perde o controle, porque para aplacar sua ansiedade é preciso atacar, sem maiores reflexões, o seu objeto de prazer. Isto acaba desencadeando um sentimento de frustração, ansiedade e culpa, gerando assim uma grande insatisfação pessoal e também com o mundo.

A gula não é só no sentido da comida, mas pode ter também o aspecto intelectual. Viver com esta pedra de tropeço, que é a gula, representa estar funcionando abaixo do próprio potencial, buscando sempre uma compensação pelo que acredita não se ter. A sensação é de não estar fazendo tudo que o que se pode, vivendo sem atender expectativas. A atitude mental básica é: necessito aprender tudo. Essa característica pode levar à necessidade de monopolizar, desejando o poder cada vez mais para si.

Um assessor guloso pode acabar tendo um papel centralizador, que não confia ou que não quer confiar em no grupo que acompanha, porque, na verdade, não confia em si mesmo e em seu potencial. Todas as decisões têm que partir dele, ele precisa estar a par de todas as informações que tem ligação com grupo.

A equipe passa a não decidir e fazer questão de não decidir nada. Todos os trabalhos são incompletos, pois o assessor ainda dará a opinião final. Então, é inútil concluí-los. Corre o risco ainda de passar a péssima impressão de ser um egoísta e um chato, e os participantes do grupo o abandonarem, deixando-o com a cara lambuzada e ainda com fome.

A PREGUIÇA: No nosso cotidiano, relacionamos a figura do preguiçoso àquele que não gosta de trabalhar (ou estudar) e quando o faz, não liga para o capricho, fazendo a sua tarefa com desleixo, lentidão ou negligência. A preguiça não se resume na preguiça física mas também na preguiça de pensar, sentir e agir.

O assessor preguiçoso não quer aprender mais nada. Gosta de deixar as decisões para depois. Quando bate a preguiça no assessor ele é sempre um freio e nunca um acelerador. Não entra em conflito para não ter que discutir. Não interfere numa ação que sabe que vai dar errada, porque isto iria implicar em ter que estudar uma nova maneira de agir. Convive pouco com sua comunidade porque não quer se envolver.

O tropeço que a preguiça represente na vida de um assessor está também na falta de coragem em divulgar a proposta do grupo. Ele não escreve, não sistematiza, não comenta as ações, não checa os fatos, não dá novas ideias. Afinal, para ele, isso dá muito trabalho.

O ORGULHO: Chamado também de soberba ou altivez, pode se traduzir na frase “Eu sou melhor que os outros", seja lá pelo motivo que for. O tropeço do orgulho está em achar que é mais do que realmente é. O orgulhoso gosta de aparecer e ostentar.

O assessor orgulhoso corre o risco de ter uma atitude de desprezo aos outros grupos e assessores. Ele pode acabar tendo a sensação de se achar possuidor de uma visão superior. É um erro, pois sabemos que todos estamos sempre aprendendo e se o fazemos é porque existe sempre alguém a nos ensinar e que sabe mais do que nós.

O orgulho no assessor implica em dizer que ele não precisa de ninguém. Ele quase nunca dá grandes dicas ou orientações, não reconhece quem o inspirou, não menciona o amigo que lhe ajudou a desenvolver sua vocação de assessor, nem agradece elogios. Por vezes chega a acreditar que nem precisa mais cultivar sua própria espiritualidade, porque já chegou no ápice da revelação!

O assessor orgulhoso se acha um gênio autossuficiente, brilhante e cheio de grandes ideias; acha que quem o ajuda, admira ou elogia não faz mais do que sua obrigação. É um grande pavão que se admira pelas suas plumagens, mas não repara nos próprios pés.

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Tenhamos claro que o erro envolvido na vivência deste pecados está em alimentá-los e agir sob o efeito deles. Nenhum assessor está imune a eles. É preciso perceber quando eles acontecem e combater a raiz de suas causas. Não agir assim é um erro. Pode minar o bom andamento de um grupo e da pastoral.

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SETE CUIDADOS COM A LIDERANÇA

Sim, este texto que você lê agora é direcionado. Quando eu o escrevi estava pensando em algumas pessoas específicas. Eram jovens lideranças que passaram e ainda passam pela minha vida pastoral e eu percebo que precisam cultivar alguns cuidados. Não que eu seja o dono da verdade ou o cara perfeito e que fica dizendo a todo tempo: “Sim, isto é certo! Não, não faça aquilo!”. Mas existem algumas percepções que o tempo dá e que gostaria de compartilha-las.

Você pode chamar estes itens que vou tratar de dicas. Eu prefiro o termo cuidado. E agrupei num total de sete cuidados. Gosto do significado que damos a alguns números e o “sete” é especial para mim. Não só para mim, como para toda a civilização em que vivemos. Basta ver como ele está esparramado por aí... Sete maravilhas do mundo, sete dias da semana, pintou o sete, sete cores do arco-íris, sete notas musicais e por aí vai... Então segue mais uma série para este número: os sete cuidados com a liderança jovem.

Cuidado consigo

Todos nós temos limitações e precisamos saber respeita-las. Mas também, todos nós temos bons valores que precisam ser cultivados com carinho. Pensar demais nos próprios defeitos e valoriza-los pode acabar por nos tornar pessoas sem atrativos e depressivas. Por outro lado, tratar só das próprias qualidades é uma maneira de camuflar os próprios defeitos, além de transparecer uma certa arrogância que não queremos cultivar.

E por falar em limites, há aqueles do nosso próprio corpo. As atividades pastorais, culturais, educacionais e familiares demandam tempo e atenção. Há aqueles que querem fazer tudo, ao mesmo tempo e agora. Uma hora acabamos por cair. E tenha certeza de uma coisa, por mais que você seja importante ou querido, não é insubstituível. Se seu trabalho ou atividade é importante, é essencial que tenham outras pessoas que possam fazê-lo. É uma preocupação a menos para você, no fim das contas.

Cuidado com as relações

O ambiente do grupo e das novas amizades e compromissos dentro de uma comunidade ou pastoral é tão bom e contagiante que muitas vezes as novas lideranças se sentem com vontade de fazer mais e mais, porque sempre há muito por fazer. Muitas lideranças fazem isto pelo prazer de ver a coisa acontecer, mas muitas outras o fazem pela fuga do ambiente doméstico. Entrar num ativismo como maneira de fugir acaba por se tornar alienação. A melhor maneira de resolver esta situação não é nega-la, mas assumir que ela existe e precisa ser encarada com seriedade.

Conforme crescem no compromisso dentro do grupo ou da pastoral, as jovens lideranças percebem também que algumas amizades que tinham antes não mais satisfazem, seja pelas conversas que não tem mais sentido, seja pelo comportamento que já não é mais compatível com a atual vivência. Vi isso inúmeras vezes e o conselho é sempre o mesmo. A tendência é o afastamento, mas isto não ajuda as “velhas amizades” a se tornarem algo melhor. É preciso mostrar a eles que se está diferente e dar a eles a oportunidade de serem diferentes também. Ofereça. Se eles aceitarem, ótimo. Se não aceitarem, ao menos você fez sua parte.

Cuidado com o grupo

A tendência de muitos jovens é achar que a responsabilidade dos grupos é da coordenação, quando muito da assessoria. Enganam-se estes jovens. Grupos não são feitos só de coordenação, da mesma forma que a Igreja não é feita só pelo clero. Igreja é povo de Deus e grupo de jovens, assim como a Pastoral da Juventude é feita por jovens. Parece meio óbvio ficar repetindo isso, mas não é. Se não nos sentimos parte responsável, não damos o devido valor.

Cuidar do grupo é cuidar das pessoas que fazem parte dele, é cuidar para que ele cumpra sua missão e cuidar para que funcione direito. Funcionar direito significa que os encontros ocorram no horário, num ambiente adequado, com os temas bem escolhidos, por exemplo. Cuidar para que o grupo cumpra sua missão é ajudar para que ele seja sinal do Reino de Deus, que coloque a pessoa e a prática de Jesus nas suas ações. E cuidar das pessoas do grupo significa conhece-las bem, criar um nível de amizade e comprometimento entre elas.

Cuidado com a espiritualidade

Há um erro das jovens lideranças que chamamos de militontismo que é a ação pela ação. E há também o outro extremo que a espiritualidade que não transforma. A jovem liderança não pode cair em nenhum destes extremos, o da prática sem espiritualidade e o da espiritualidade sem prática, pois a espiritualidade da Pastoral da Juventude se vivencia no seu cotidiano e na experiência do amor de Deus acontecendo através dele.
Quem vive uma espiritualidade enraizada no Evangelho de Jesus e na experiência da presença de Deus no cotidiano entende que existe sim uma mudança acontecendo por dentro da pessoa, mas também nas nossas relações sociais e no ambiente que nos cerca. Se percebemos a presença de Deus no dia a dia das pessoas, notamos que em muitos lugares não há os sinais de vida que estava em Seu plano original. É essa mesma espiritualidade que motiva e movimenta o ser humano à luta pela justiça, pelos direitos dos pobres, para tornar a sociedade mais fraterna e solidária.

Cuidado com o mundo

Há um princípio básico por trás da jovem liderança cristã. Sua ação e sua prática são pautadas na ação e na prática de Jesus e dos profetas que anunciavam o Reino e denunciavam a cultura de morte. Onde esta tipo de prática anti Reino acontece é preciso que seja apontada. Isto se dá tanto nas relações sociais, onde algumas pessoas valem mais do que outras, seja por sexo, cor da pele, origem social, econômica ou grau de instrução, seja nas relações com o meio que nos cerca.

O consumismo, a sociedade do hedonismo, do egoísmo são sinais deste anti-Reino. Os recursos naturais são limitados e o consumo de alguns é sem limites. A busca do prazer pelo prazer acaba por colocar o outro ora como meio para obter tal prazer, ora como empecilho para tal fim. Quem acredita na proposta de Jesus sabe que o homem foi criado para ser filho de Deus, irmão dos outros e administrador da criação e não “Senhor” de Deus, inimigo do irmão e explorador da criação; o mundo deve ser a casa da grande família de Deus, onde todos se sintam bem.

Cuidado com a história e a cultura

Quando se fala que o jovem líder deve ter cuidado com a história é porque ele não “engole” qualquer história. O senso crítico que é despertado no processo de evangelização da juventude o faz entender que muitas notícias são manipuladas e muitos fatos são contados parcialmente, normalmente pelos “vencedores” ou donos dos meios de comunicação.

Entretanto, esta máxima (de que a história é contada pelos vencedores) vem sendo aos poucos combatida, seja pela imprensa alternativa seja pela internet, seja pelos meios de divulgação da cultura popular. Existem redes alternativas de comunicação e muitas têm blog’s, perfis em redes sociais e fazem um bom barulho. No outro extremo da divulgação, estão os pequenos grupos culturais que fazem o trabalho de discutir e oferecer a população o que não passa na grande mídia. Estes pequenos grupos ajudam a população a se enxergar tal qual num espelho.

Cuidado com a militância

Dentro do cuidado com a militância, lembro de três conselhos que são importantes para a jovem liderança: Conforme disse São Tiago, “a fé sem obras é morta”; tenha uma fé madura e que transpareça para quem vê-lo; tenha compromisso com o que faz; a proposta de Jesus não é brincadeira; exerça sua liderança como serviço; não se deixe manipular.

O jovem que cuida da sua própria militância sabe que olha para um horizonte mais além, na nova humanidade, numa sociedade de pessoas novas que se funda nos valores da Comunhão e da Participação, da Verdade e da Justiça, da Liberdade e da Igualdade, do Amor e da Paz. Uma sociedade sem opressores e oprimidos, em que: a mulher e o homem estejam acima de todo poder ou projeto, em que a vida esteja antes de qualquer outro valor ou interesse, na qual o trabalhador(a) tenham mais valor do que o capital, que a verdade predomine sobre a mentira e a manipulação, que a ética seja mais importante que a técnica e que a realidade e o testemunho falem mais alto do que os projetos e discursos.

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